quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Richard Petrocelli, ex-meia do Verdão na década de 50

Olá galera alviverde!

O sempre competente Gustavo Missura, do blog Memória da Bola (@memoriadabolaconseguiu uma entrevista com um jogador do Verdão da década de 50, Richard Petrocelli. Richard atuou no período 1950-1953 e conquistou diversos títulos com o manto alviverde, entre eles a Copa Rio de 1951.

Replico abaixo, na íntegra, a entrevista concedida pelo ex-jogador e publicado na edição do jornal "Cidade Livre", de São José do Rio Pardo (concedida em Outubro/2012) 

Richard no Pacaembu, quando atuava pelo Palmeiras

Nascido em São José do Rio Pardo, pequena cidade do interior de SP no dia 26 de maio de 1932, Richard Petrocelli, ex-jogador do Palmeiras, é considerado por muitos o melhor jogador de futebol que a cidade já teve. Casado com Magali Nogueira Petrocelli, Richard tem três filhos: Richardinho, Ana Beatriz e Maria Inês. Os ares de tranquilidade desfrutados hoje pelo ex-jogador de futebol, que atuou com grande destaque pela Sociedade Esportiva Palmeiras nos anos 1950, remetem às memórias e lembranças de um tempo que ficou imortalizado para o futebol brasileiro. A curta carreira como jogador de futebol profissional de Richard, que abandonou os gramados após uma grave contusão que o impediu de desempenhar seu melhor futebol, foi marcante e é lembrada até hoje pelos palmeirenses e pelos amantes do esporte que, naquele tempo, já era considerado o “ópio do povo”. Um meia que jogava próximo ao ataque e marcava muitos gols rapidamente ganhou notoriedade e foi destaque em jogos importantes e nos títulos que o Palmeiras conquistou no início da década de 1950. No próprio ano de 1950, quando chegou ao clube da capital paulista, conquistou as “Cinco Coroas”: Torneio Início do Paulistão, Taça Cidade de São Paulo, Torneio Ano Santo, Campeonato Paulista e Rio-São Paulo. Em 1951, conquistou a famosa Copa Rio, que muitos consideram como um Mundial de Clubes, já que a competição contou com Palmeiras, Vasco da Gama, Áustria Viena (Áustria), Nacional (Uruguai), Juventus (Itália), Sporting (Portugal), Olympique de Nice (França) e Estrela Vermanha, da antiga Iugoslávia. Foi campeão também pelo Palmeiras do Rio-São Paulo e da Taça Cidade do México, em 1952, além de ter sido vice-campeão paulista em 1953 e 1954. Richard Petrocelli nos recebeu em sua casa para uma entrevista e contou histórias de sua trajetória como jogador profissional, fatos marcantes e algumas vezes até engraçados, as homenagens que recebe até hoje pelo Palmeiras e falou do reconhecimento pelo que fez enquanto representava o clube do Parque Antárctica, confira.

Como foi o início de sua carreira no futebol?


Comecei minha carreira como jogador de futebol no Rio Pardo FC, aqui de nossa cidade. Joguei por um tempo no clube e, em seguida, fui para São Paulo jogar no Palmeiras. Fui jogar pela primeira vez no clube depois que meu pai conversou com um amigo que ele tinha em São Paulo. Ele sempre comentava que tinha um filho que jogava futebol e, em uma das vezes que meu pai foi a São Paulo a negócios, falando com este amigo ele informou que eu estava na cidade e perguntou se interessava para ele conversar comigo. Esse amigo de meu pai era chefe do Departamento Profissional do Palmeiras, e me convidou para fazer um testo no clube. Eu disse que só iria se fosse jogar assim que chegasse lá, não queria sentar no banco e aguardar uma oportunidade. Se puder ser assim, eu vou, disse a ele. Ele então perguntou se eu podia ir no mesmo dia até o Palmeiras. Respondi que sim e ele falou que iria providenciar o material necessário para jogar. Logo lhe informei que não precisaria, pois sempre carregava meu material comigo, estava sempre preparado para jogar futebol. Terminamos a conversa e fui para o Palmeiras treinar. Treinei junto com os aspirantes, ao lado de Dino Sani e do Canhotinho no ataque do time, joguei de centroavante naquele dia. Treinamos contra o time profissional do Palmeiras, joguei bem e praticamente no mesmo dia eu já estava com contrato assinado com o Palmeiras, foi tudo muito rápido. O Palmeiras vendeu o Dino Sani após um tempo, e ele acabou jogando em muitos times do Brasil e do exterior. Canhotinho foi um grande companheiro meu naquele tempo de Palmeiras.


Por quantos anos você atuou pelo Palmeiras?


Joguei pelo Palmeiras de 1950 até o final de 1953, 4 anos, portanto.


Você participou de campeonatos de futebol no Brasil e no exterior também?


Participei de campeonatos estaduais, interestaduais e internacionais aqui no Brasil e de alguns no exterior também, como no México. No meu primeiro ano no Palmeiras, 1950, fui campeão paulista, fazendo parte do plantel que conquistou o título estadual naquele ano. Em 1951, fui campeão da Copa Rio com o Palmeiras, um campeonato mundial que aconteceu no Rio de Janeiro e contou com a participação de times como a Juventus, da Itália, o Nacional do Uruguai, o Estrela Vermelha, da Iugoslávia e outros times importantes.


A sua posição original no campo de jogo era na meia-direita, correto?


Sim, mas jogava também como meia-esquerda e, algumas vezes, como centroavante. Sempre no ataque, auxiliando os demais companheiros da equipe.


Qual foi o momento de maior alegria que você teve no Palmeiras?


Durante a semi-final da Copa Rio, no Rio de Janeiro, jogamos com o Vasco duas vezes. Ganhamos a primeira partida por 2 a 1 e fomos jogar a segunda alguns dias depois. Infelizmente, nesse segundo jogo eu fraturei a tíbia, e isso impossibilitou-me de jogar as finais daquele campeonato. Mesmo com este problema que tive posso dizer que o fato de termos sido campeões de um campeonato mundial foi o momento de maior alegria que tive no Palmeiras.


O Palmeiras era um dos representantes do Brasil na Copa Rio por ter sido convidado ou houve algum critério para classificação das equipes para o campeonato?


Em 1950, o Brasil sediou e disputou a Copa do Mundo de seleções da FIFA. A seleção chegou à final e foi jogar com o Uruguai para decidir quem ficaria com o título. O Brasil jogava pelo empate, mas acabou sendo derrotado em pleno Maracanã. Estive presente no jogo, acompanhando e torcendo pela nossa seleção. Por conta dessa derrota jogando em casa, a FIFA decidiu realizar um torneio de clubes no Brasil com campeões de vários países do mundo, acredito que para homenagear de alguma forma o nosso país apesar de ter perdido a Copa do Mundo. O Barcelona e o Real Madrid foram convidados também, mas não vieram porque na Copa do Mundo a Espanha havia perdido do Brasil por 6 a 1, então creio que eles ficaram receosos de perderem de forma vexatória também num campeonato mundial de clubes. O Palmeiras jogou a Copa Rio por ser o campeão pauista atual à época e também do torneio Rio-São Paulo.


Depois da Copa Rio você ainda atuou pelo Palmeiras até o final de 1953. Como foi este período?

Após minha contusão na Copa Rio, não voltei para São Paulo imediatamente, fiquei no Rio de Janeiro e fui me tratar no Vasco da Gama. O médico do Vasco naquela época era também da seleção brasileira e avaliou minha lesão apenas como uma luxação de ligamentos, então fiquei na cidade até o campeonato acabar. Mas eu não estava melhorando. Quando voltamos para São Paulo, o Palmeiras contratou um médico para reavaliar minha situação. Eu disse que não estava em condições nem de colocar o pé no chão, e então ele agendou novos exames para constatar o que realmente havia acontecido comigo em um hospital particular em São Paulo, fora dos domínios do Palmeiras. Já no hospital, que era bastante moderno e contava com o que de melhor havia na época, depois de realizar novos exames ficou constatado que a minha lesão era muito mais grave do que havia sido dito pelo médico do Vasco, no Rio de Janeiro. Acabei ficando aproximadamente 6 meses parado, e retornei aos gramados no fim do ano de 1951, em um jogo contra a Portuguesa no Pacaembu, que estava lotado. Era um jogo válido pelo Campeonato Paulista, a Portuguesa havia acabado de chegar da Europa, onde jogaram e ganharam um torneio que foram disputar lá. Ganhamos aquela partida por 1 a 0, com um gol que eu fiz de cabeça logo no começo do jogo. Esse resultado significou muito para mim, pois era meu retorno ao futebol, fiz o gol que deu a vitória do Palmeiras e percebi que eu estava pronto novamente para jogar em alto nível, retomei a confiança imediatamente. Para o jogador de futebol, estar afastado dos campos devido uma contusão séria faz com que muitas dúvidas tomem conta da nossa cabeça, se vamos voltar bem ou não, a confiança é muito importante. Depois da minha volta, conquistamos o Campeonato Paulista uma vez e fomos duas vezes vice-campeões. Fomos campeões da Taça Cidade do México, um campeonato muito importante, pois o México era destino de jogadores argentinos de muita qualidade, formavam times muito fortes com eles. A seleção argentina da década de 1940 era fortíssima.

Antes de deixar o Palmeiras e o futebol, você recebeu uma proposta para jogar pela Fiorentina, na Itália. O que aconteceu que não permitiu o negócio dar certo?


Cheguei até a firmar um pré-contrato com a Fiorentina. Entretanto, aconteceu uma nova contusão, muito grave. O rompimento de ligamentos me forçou a encerrar minha carreira precocemente, tive que desistir do futebol. Fiquei com medo de ir para a Europa, naquele tempo uma contusão como a que eu tive não era comum. Eu estava prestes a me casar, já tínhamos tudo arrumado para irmos para a Itália. Mas, no final acabei ficando no Brasil.


Depois de parar de jogar, você continuou acompanhando o futebol mesmo à distância?


Não, eu me afastei totalmente do futebol. Mudei de ramo, tornei-me fazendeiro quando voltei para São José do Rio Pardo. Joguei algumas partidas com pessoas aqui da nossa cidade algumas vezes, mas apenas para me divetir. Também fiz alguns jogos em Mococa num campeonato que aconteceu lá, mas eu não tinha mais condições físicas ideais para jogar. Não tinha mais liberdade de movimentos, sentia-me preso no campo, mas ainda assim conseguia ajudar o time.


O Palmeiras sempre organiza eventos para homenagear seus ex-jogadores e ídolos do passado. Como são esses eventos, o que você e os demais ex-atletas sentem por serem lembrados e homenageados até hoje?


Todos os anos, no dia 16 de setembro, existe uma homenagem para os veteranos. Já participei de alguns desses eventos, é muito gratificante. Da época em que eu jogava pelo Palmeiras apenas 3 jogadores ainda são vivos: eu, Oberdan Cattani (goleiro), que está com 94 anos e Aquiles (meia), que está com 84. Sempre que nos encontramos é uma festa, pois lembramos de muitas histórias junto com outros ex-jogadores que atuaram pelo Palmeiras depois de nós, como o Ademir da Guia e tantos outros. Recentemente, quando houve a aprovação da construção da Arena Palestra Itália, que será o novo estádio do Palmeiras, fui convidado para representar os jogadores que atuaram no clube entre os anos de 1950 e 1960 e votar pela aprovação ou não da construção. Apesar de uma ala ser contra a construção do novo estádio devido o fato de o Parque Antárctica ter que ser demolido, a construção foi aprovada e está em andamento. O Parque Antárctica era muito aconchegante, não era um estádio grande, tinha capacidade para quase 30 mil pessoas somente, mas era um local muito agradável.


Além do contato que você ainda tem com o Palmeiras por meio das homenagens que são prestadas aos ex-jogadores do clube, você acompanha o clube atualmente?


Sempre que posso vou lá cornetar um pouco as coisas. Falei há alguns dias com o Roberto Frizzo, que é um dos diretores atualmente no Palmeiras, disse a ele que para trabalhar com jogador de futebol é preciso ser do meio, ter vivência como jogador, como por exemplo o César Sampaio tem. Quando colocam pessoas que não conhecem do assunto para administrar as coisas tudo dá errado, sempre vai ser assim. Por motivos como esse é que o Palmeiras já sofreu muito e sofre atualmente também. Terem mantido o Felipão por tanto tempo é o que acarretou na situação em que o Palmeiras se encontra hoje, houve muitas indisposições com jogadores, e, por mandar nos jogadores e na própria diretoria, ele acabou fazendo com que todo o autoritarismo que tem acabasse minando sua relação com as pessoas no Palmeiras. Além disso, o Palmeiras gastava muito dinheiro para manter o Felipão e sua comissão técnica inteira. Era um investimento muito alto para o retorno que ele trazia.


De algumas décadas para cá, é muito perceptível que existe um “racha” no Palmeiras, tanto dentro do clube quanto até mesmo na torcida. Sempre foi assim?


Sempre foi. Sempre existiram alas que pensavam diferente e ficavam brigando entre si o tempo todo, o que só prejudicava o Palmeiras. A “turma do amendoim”, que o Felipão assim apelidou, é um exemplo disso. Na minha época havia a “turma da vaselina”, que também mais atrapalhava do que ajudava no Palmeiras. Nunca ninguém está satisfeito no Palmeiras, a única maneira de todos estarem satisfeitos seria o Palmeiras ganhar todos os jogos, todos os campeonatos invicto. Mas isso é impossível. Acredito que devido a situação atual, o Palmeiras deveria cair para a Série B do Campeonato Brasileiro, assim o clube poderia tentar se reestruturar novamente. Mas com profissionais do ramo, que entendem de futebol.


Quando você jogava, alguma vez o seu nome chegou a ser cogitado ou até mesmo foi convocado para defender a seleção brasileira de futebol?


Sim, em 1954. Infelizmente isso aconteceu quando eu estava deixando o futebol. Eu poderia ter disputado pelo Brasil a Copa do Mundo de 1954, na Suiça. O lado bom de não ter ido foi que o Brasil acabou sendo derrotado pela Hungria, que tinha um timaço. Puskas, que era o destaque do time húngaro, era um jogador fora de série. A Espanha tinha Di Stéfano, argentino que jogava pela seleção espanhola, outro craque. Naquele tempo era comum jogadores de nacionalidades diferentes jogarem por seleções que não fossem as de seus países. O Mazzola (Altafini) defendeu a seleção da Itália anos depois de ter defendido a seleção do Brasil. Inclusive o Mazzola antes de jogar pelo profissional do Palmeiras jogou com o meu irmão nas categorias inferiores e com um jogador chamado Fernando, de Casa Branca, que era muito bom jogador. Um jogador chamado Faustino também jogava, e o Mazzola era reserva dessa equipe em que meu irmão atuava.


Na sua opinião, o que aconteceu no Brasil de uns tempos pra cá que não é como antes, quando jogadores realmente bons praticamente “brotavam” pelo país afora?


Naquele tempo existiam campos de futebol em proporção muito maior do que temos hoje. Quando chegava-se na cidade de São Paulo era possível perceber a quantidade de campos que existiam, era uma coisa fora do comum, com gente praticando o futebol em quase todos eles ao mesmo tempo. Com o passar do tempo muitos espaços que eram destinados ao futebol foram sendo tomados por outras construções, e a quantidade de campos diminuiu demais. No meu tempo, para jogar futebol o sujeito tinha que ser bom de verdade, a concorrência era enorme. Só jogava quem sabia, “cabeça de bagre” não tinha vez. Hoje é raro encontrarmos jogadores que nascem com talento de verdade e se tornam jogadores profissionais, você pode aperfeiçoar a técnica, o condicionamento físico, mas o talento nato é único e não é algo que se aprende.


Você fez amizades no tempo em que jogava profissionalmente que perduraram por muito tempo?


Sim, fiz muitos amigos. Infelizmente muitos amigos se perdem por circunstâncias diversas da vida, mas com alguns mantive contato por muitos anos.


Você se lembra de outros jogadores daquela época em que você era profissional que tinham muito talento mas acabaram não tendo tanto destaque no futebol ou mesmo chegaram à seleção brasileira por terem suas carreiras abreviadas por contusões ou outros motivos?


O Palmeiras tinha um jogador chamado Waldemar Fiúme que foi um dos maiores jogadores que eu já vi jogar e nunca foi para a seleção. Também existem casos de jogadores que muitas vezes iam bem em seus clubes mas não conseguiam apresentar o bom futebol que jogavam também pela seleção.


Existe alguma história marcante do futebol que você gosta sempre de se recordar?


O Brasil enfrentou a Inglaterra, no Maracanã, há muitos anos, e nesse jogo aconteceu uma coisa que marcou muito a história do nosso futebol. O ponta-direita titular da seleção era o Garrincha, mas o Flávio Costa, que era técnico da seleção na época, o tirou do time. Colocou no lugar do Garrincha o Julinho Botelho, que jogou no Palmeiras. O Garrincha era o xodó do povo carioca e brasileiro, um fora de série, imagine o que aconteceu? O Maracanã inteiro vaiou a decisão do técnico e o Julinho entrou sob grande pressão para jogar. Ele entrou e simplesmente acabou com o jogo, teve uma atuação de gala. O Brasil ganhou e o Maracanã que vaiou no começou teve que aplaudí-lo no final. O Palmeiras tinha um jogador que se chamava Dema que marcava muito bem, jogava muito bem. Nos jogos entre o Palmeiras e o Botafogo, quando o Dema enfrentava o Garricha eu sempre dizia a ele para nunca deixar o Garrincha pensar e agir antes dele, senão não tinha como segurá-lo, se ele dominasse a bola não tinha como tirar mais. O Dema foi o único jogador que eu vi marcar bem o Garrincha, mas mesmo assim dificilmente dava para parar o Mané.


Richard, conte-nos alguma história engraçada em que você esteve envolvido nos tempos em que jogava futebol, algum fato curioso que tenha ocorrido.


Em um Campeonato Paulista, o Palmeiras foi jogar em Piracicaba contra o XV. que tinha um bom time naquela época. Inclusive o XV disputou alguns anos antes desse fato a final da segunda divisão do Campeonato Paulista contra o Rio Pardo, quando eu ainda jogava aqui. O campo deles era no meio da cidade, na rua Regente Feijó, se acontecesse alguma confusão não tinha pra onde correr. O jogo começou, nós fizemos 1 a 0, depois o XV empatou, fez 2 a 1 contra o Palmeiras e mais tarde igualamos o placar em 2 a 2. Perto do final do jogo, eu recuperei uma bola no meio do campo, fui pra cima da defesa do XV e o Liminha, que era do Palmeiras, entrou na área com tudo, passei a bola para ele em excelentes condições para fazer o gol mas um zagueiro do XV o atropelou, derrubando dentro da área. O juíz, com muita coragem, não teve dúvidas e apontou a falta e o pênalti. Faltavam poucos minutos para o jogo acabar e quem marcasse mais um gol àquela altura praticamente ganharia o jogo. Uma confusão generalizada se formou e o jogo ficou parado vários minutos, com os jogadores do XV contestando a marcação da arbitragem sem parar. Num momento em meio à confusão, eu cheguei no goleiro do XV, Alfredo, que não estava perto da confusão, e disse a ele: companheiro, chame seus colegas de time e diga que vamos resolver isso aqui. Tenho que estar em São José do Rio pardo às 8 horas da noite e não posso demorar muito aqui. Eu vou cobrar o pênalti, chuto para fora e fica tudo certo. Ele concordou comigo e foi conversar com os demais jogadores do XV. Ele conseguiu convencer os outros jogadores a parar de tentar fazer o juiz voltar atrás na marcação do pênalti, o que não iria acontecer nunca. Peguei a bola, coloquei na marca do pênalti, tomei distância, corri e chutei seco no canto, rasteiro. O goleiro nem se mexeu. Quando a bola entrou eu imaginei que ou o pessoal do Palmeiras ou os de Piracicaba me matariam naquela hora, uns por eu ter feito a confusão ficar ainda maior e outros por eu não ter cumprido com o acordo combinado. Saí correndo em direção ao vestiário com jogadores, assistentes, comissão técnica e quem mais quisesse correndo atrás de mim. Ficamos horas dentro do vestiário presos até os ânimos se acalmarem para podermos ir embora, o jogo tinha começado à tarde e só conseguimos sair do estádio mais de 9 horas da noite. Mas o importante é que o Palmeiras ganhou o jogo.


Início dos anos 1950 no Pacaembu, em São Paulo. Da esquerda para a direira: Liminha, Ponce de León, Richard Petrocelli, Jair e Rodrigues. 


Equipe do Palmeiras antes do jogo contra a Juventus, da Itália, válido pela Copa Rio de 1951. Da esquerda para a direita, em pé: Salvador, Dema, Túlio, Juvenal, Fábio, Luis Villa e Guido. Agachados estão Liminha, Ponce de León, Richard, Jair e Rodrigues.


Richard Petrocelli atualmente em sua casa, no dia em que nos concedeu entrevista.

2 comentários:

  1. Faleceu hoje(16/04/2013) na cidade de são José do Rio Pardo aos 81 anos de idade.

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    1. Uma pena, grande ídolo do Verdão e ilustre cidadão riopardense.

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